Acordou, e ele era um burro. Não pelo Q.I., nem por murros que se daria em pontas de faca. Não pela fraca intuição dos fatos, mas pela certeza incólume ao não-saber, pelo que em ser-se incerto o burro impõe-se ao médio, e por saber-se falho encontra os atalhos que o levam longe sem … Continue lendo O burrinho e a lírica
Categoria: Poesia
Acho bonito tempo feio
De um tempo que era todo meu nasci numa apreciação curiosa pelo tempo ruim na praia. Coisa estranha, gostar de tempo ruim; pelo que dizem de tempo ruim não se gosta. E talvez seja justo isso: que, de mim para mim, o tempo ruim era bom, justamente porque para todo mundo ele era ruim. Porque … Continue lendo Acho bonito tempo feio
Eu faço angústia e branco até mais tarde e tenho muita fome de manhã – buarqueana #1
- Um café e um pão na chapa, faz favor. Da mesa do canto, encostado à janela, vê-se o mundo acordando do lado de lá - os carros que passam, disciplinados e indolentes, infalivelmente presentes à procissão do dia que vem; a moça que vende os bolos com gosto de água de torneira, o … Continue lendo Eu faço angústia e branco até mais tarde e tenho muita fome de manhã – buarqueana #1
Sobre nada, como tudo. ondas
Vou me comprar um erro. Um belo erro, comprido e redondo, que me ocupe e me faça perder noção do tempo, até o tempo acabar com isso de uma vez; com meu erro passa mais rápido o dia, e acaba logo a semana, e o mês, e o ano, e aí a gente morre … Continue lendo Sobre nada, como tudo. ondas
o Deus triste das feias freiras
Chove. Chove e a vida tempo louco eu; eu. * * * ... chances as teve, muitas, várias, e a cada curva o novo se lhe afigurava velho Os traços nos rostos das pessoas eram rugas As marcas no asfalto era desgaste As flores eram o prenúncio da morte A brisa era frio e fome … Continue lendo o Deus triste das feias freiras
Infinito
Calmamente o velho tece o Infinito. Ocupa o centro, sentado diante do fuso. Amplas colunas erguem-se paralelas - quatro delas emolduram o velho em seu ofício, os pares de colunas se seguindo a perder de vista de ambos os lados. Não se vêem as paredes laterais do salão - colunas e paredes se encontram no horizonte. … Continue lendo Infinito
o que é singelo
Os passos na areia, andando-se para trás; saber-se dono dos próprios passos, sentir-se responsável por si e, por um segundo, livre. Surpreender-se feliz - e só feliz - num momento impróprio, lavando a louça, escovando os dentes, andando na rua. Sentir o som do próprio fone de ouvido contagiando o mundo, contagiando a si, espalhando-se … Continue lendo o que é singelo
Boneca russa
Ele saiu de casa atrasado, e a chance de chegar a tempo à reunião é mínima. O trânsito, pra variar, não colabora - como as pessoas dirigem mal! Alguém faz cagada lá na frente e as buzinas começam e vão ganhando adeptos a cada segundo, como um dominó, como MPB4. Obviamente as buzinas … Continue lendo Boneca russa
perder-se – Ruínas de Astérion
I. O medo se aguarda no bolso direito, do paletó. Just in case. Anda-se em linha oblíqua, em direção à segunda estrela. À direita. Até o amanhecer. Somos muitos, mas poucos são os que sobrevivem aos primeiros dias. Porque o medo já não espera muito. Muitas das curvas … Continue lendo perder-se – Ruínas de Astérion
A nova história
Teríamos flores [e festa como se o tempo fosse todo e todo nosso; como se a gente fosse tudo, sem falta, destroço, remorso E seríamos muitos, e felizes. E eles não poderiam mexer com a gente. Ah, não. E se mexessem eles nem existiriam mais; como bolas de sabão eles seriam, eles, os de fora, … Continue lendo A nova história


