Tinha sido uma besteira, uma irrelevância qualquer – fazia tão pouco tempo e já nem lembrava o que tinha sido. Mas eram tantas irrelevâncias, e eles iam e vinham tão atrozes, que aquela em específico lhe pareceu de súbito insuportável. Porque ele se deu conta de que morria gente demais. É uma conclusão estúpida, e … Continue lendo Alzheimer (desterrados da graça)
Categoria: Literatura
O chão que o diabo amassou
SoturnoRepiso o chão que o diabo amassouChão que por tanto tempo chamei de larE enfim sei, agora que já se fez tardeQue a hora deveria ter vindoe veioE quem não apareceu fui eu
O homem da tempestade (uma parábola)
Há algum sinal de mudança, talvez – um esgar de claridade, um indício de duna. Há uma presença do tempo, a insinuação de um tempo a existir, algo que só as bordas, a falhar, denotariam. Algo disso ocorre ao Homem da Tempestade, ainda que, aparentemente indiferente, ele siga, sem rumo, como haveria de ser, mas … Continue lendo O homem da tempestade (uma parábola)
O massacre dos inocentes
Chegou ali na vitrine e já reparou, a dona Dita, que o Moleque tava ali junto com os de sempre no farol. De cara deu meio que um aperto, assim meio que no peito, de ver o Moleque ali – devia de ter o quê?, uns cinco, seis anos... isso não era idade de menino … Continue lendo O massacre dos inocentes
As botas (e Lino)
As botas cruzadas sobre o banquinho não se ocupavam da réstia de sol a escorregar para fora do alpendre, não. Com o que podiam da atenção, ao sabor da leseira que arrasta o fim de um dia abafado, miravam, sim, o mar de zinco morro abaixo, rebrilhando ao sol como mil peixes esperneando numa tarrafa … Continue lendo As botas (e Lino)
Ode ao Rei Verso
Se um verso, face aparente de um sonho qualquer, dissesse de mim mais do que o que eu sou, (Ou se dissesse de mim não mais que tudo que importa), Se ele me atravessasse as farsas, os impasses e os disfarces,Ele, a frente esquecida do verso de mim. Se um verso meu me pudesse sonhar … Continue lendo Ode ao Rei Verso
Frátria armada, Brasil
Preâmbulo Trata-se, nas páginas que seguem, da composição do mapa político das terras outrora conhecidas como “Brasil”, ou seja, aquelas situadas no cone meridional Leste das terras a Oeste do Atlântico. Ninguém sabe ao certo quando e como se teriam dado as transformações que levaram à atual geografia política – dividida entre Googland, no Sudeste, … Continue lendo Frátria armada, Brasil
Toda a luz que resta
Dedicado ao Rui e à Isa Em memória do Tio Rui, e de todos os tantos outros Parcialmente inspirado em "One more light", da banda Linkin Park Em um céu de bilhões de estrelas, quem se importa se uma mais se apaga?Se já fraca, esta estrela pouco brilha? Se já velha, poucos em seu brilho … Continue lendo Toda a luz que resta
A lagarta e a náusea
[1]Há não muito tempo atrás, ainda numa outra vida, eu andava tranquilo pela rua, e estava sem máscara sem me sentir nu, e havia pessoas a conduzir suas vidas por ali; e lá ia eu, e de repente vi à minha frente uma lagarta - uma lagarta gorda, seus múltiplos passos a dar minúsculos passos, … Continue lendo A lagarta e a náusea
A imperatriz e o Merthiolate
Lembro que, quando era moleque, Merthiolate ardia pra burro. Se você caía e ralava o joelho tinha logo dois motivos pra chorar: a dor do ralado e a dor antecipada do Merthiolate, que estava destinado a arder em você em virtude do ralado. Nunca vi graça nenhuma no ardor do Merthiolate, mas hoje penso que … Continue lendo A imperatriz e o Merthiolate