É de uma ironia puta que eu reste aqui, observando com olhos inertes esse dramalhão tragicômico.Sem falar no mau gosto dessa experiência pós-morte. Eu, apesar de não ser grande consumidor de religiões e versões do além, sempre supus que haveria um fim digno - que poderia ser uma espécie de tela preta (para mim), ou … Continue lendo Napoleão ad hoc
Categoria: Literatura
Flora Jair
Eu acordo estranhando o fato de ter dormido – mas com certeza dormi, porque a dor nas juntas, nas costas, no abdômen, no rosto, no corpo todo lateja de um jeito certamente mais nítido do que alguns segundos atrás. O cheiro de umidade me enoja, uma vez mais. Desde quando será que estou aqui? Parece … Continue lendo Flora Jair
Bilidim
Ela, ali – Bilidim, problema social. Vira de lado diante do espelho, dá uma estudada no formato da barriga, mas não: ainda não dá pra notar nada. Mas o moleque tá lá. O moleque tá lá dentro, mano! Ali dentro da barriga dela - não dá nem pra ver, mas ele tá ali, bonitinho. Bonitão … Continue lendo Bilidim
Alzheimer (desterrados da graça)
Tinha sido uma besteira, uma irrelevância qualquer – fazia tão pouco tempo e já nem lembrava o que tinha sido. Mas eram tantas irrelevâncias, e eles iam e vinham tão atrozes, que aquela em específico lhe pareceu de súbito insuportável. Porque ele se deu conta de que morria gente demais. É uma conclusão estúpida, e … Continue lendo Alzheimer (desterrados da graça)
O chão que o diabo amassou
SoturnoRepiso o chão que o diabo amassouChão que por tanto tempo chamei de larE enfim sei, agora que já se fez tardeQue a hora deveria ter vindoe veioE quem não apareceu fui eu
O homem da tempestade (uma parábola)
Há algum sinal de mudança, talvez – um esgar de claridade, um indício de duna. Há uma presença do tempo, a insinuação de um tempo a existir, algo que só as bordas, a falhar, denotariam. Algo disso ocorre ao Homem da Tempestade, ainda que, aparentemente indiferente, ele siga, sem rumo, como haveria de ser, mas … Continue lendo O homem da tempestade (uma parábola)
O massacre dos inocentes
Chegou ali na vitrine e já reparou, a dona Dita, que o Moleque tava ali junto com os de sempre no farol. De cara deu meio que um aperto, assim meio que no peito, de ver o Moleque ali – devia de ter o quê?, uns cinco, seis anos... isso não era idade de menino … Continue lendo O massacre dos inocentes
As botas (e Lino)
As botas cruzadas sobre o banquinho não se ocupavam da réstia de sol a escorregar para fora do alpendre, não. Com o que podiam da atenção, ao sabor da leseira que arrasta o fim de um dia abafado, miravam, sim, o mar de zinco morro abaixo, rebrilhando ao sol como mil peixes esperneando numa tarrafa … Continue lendo As botas (e Lino)
Ode ao Rei Verso
Se um verso, face aparente de um sonho qualquer, dissesse de mim mais do que o que eu sou, (Ou se dissesse de mim não mais que tudo que importa), Se ele me atravessasse as farsas, os impasses e os disfarces,Ele, a frente esquecida do verso de mim. Se um verso meu me pudesse sonhar … Continue lendo Ode ao Rei Verso
Frátria armada, Brasil
Preâmbulo Trata-se, nas páginas que seguem, da composição do mapa político das terras outrora conhecidas como “Brasil”, ou seja, aquelas situadas no cone meridional Leste das terras a Oeste do Atlântico. Ninguém sabe ao certo quando e como se teriam dado as transformações que levaram à atual geografia política – dividida entre Googland, no Sudeste, … Continue lendo Frátria armada, Brasil