O burrinho e a lírica

  Acordou, e ele era um burro.

  Não pelo Q.I., nem por murros que se daria em pontas de faca. Não pela fraca intuição dos fatos, mas pela certeza incólume ao não-saber, pelo que em ser-se incerto o burro impõe-se ao médio, e por saber-se falho encontra os atalhos que o levam longe sem fazê-lo grande nem torná-lo alguém.

  Marcado pela conjuntural, bizarra configuração equestre, por mais que infrutífera, nova organização imposta sem pergunta, certamente sem resposta, viu-se de repente tomado de certo apreço pelo fado, e pôs-se a contemplar com algum agrado que marcava seu traçado com um ritmo marcado, coisa que jamais se viu fazer.

  Mal se punha em firme marcha, o espanto impunha a faixa, o desengano ou desafino de não mais sair-se bem. Pois bem, faço acerto desse erro, e manqueio com graçejo, já não sou de pôr-me medo só de fluir feio de ver.

  O café fluía às fontes, e afluía à mente aos montes, pensamentos e arremates, na cadência e nos engates, dos atalhos que eram seus. E vinha então um naco de pão, o restante ainda na mão, marcando firmemente o senão: regozijar-se é esmorecer.

  Arredou pé e pôs-se firme, sem que houvesse aviso, prenúncio, dedo em riste. Estacou, pôs-se um limite: burrice empaca e é o que é. Foi assim que viu limite o flerte garboso do burrinho valoroso com a métrica, a avenida da lirice – e riu o burro de si mesmo: só sendo burro pra falar em lirice!

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