I.
O medo se aguarda no bolso direito, do paletó.
Just in case.
Anda-se em linha oblíqua, em direção à segunda estrela.
À direita. Até o amanhecer.
Somos muitos, mas poucos são os que sobrevivem aos primeiros dias.
Porque o medo já não espera muito.
Muitas das curvas se parecem, e o tédio logo vira estranhamento.
Do estranhamento, o medo é próximo; logo ali.
E há os que se apressam.
Ah, tolos…
e a expectativa é de que cheguem ao novo,
[ao fora.
Logo eles correm.
As curvas se seguem sempre iguais, sempre novas,
e eles já não vêem nada.
As curvas viram as horas, e os dias
As luas iluminam os corredores em novos padrões
e já ninguém vê.
Corremos.
E por medo uns derrubam os outros,
tentando tirar vantagem,
tentando tirar de si o desespero, o medo.
E não adianta. Óbvio que não.
O estranhamento, que crescia, já impera,
é-se um estranho, e tudo é estranho,
e o medo já é desespero.
Uns matariam os outros, se pudessem. E talvez possam,
mas o medo.
II.
De tanto ralar meus ombros nas sempre curvas,
de tanto bater-me em retirada,
encontrei na exaustão o conforto de umas horas,
que me mostraram o alento de um reconhecimento tácito,
e me senti muito, tanto – encontrei-me.
Encontrei-me, e aos outros. E vi o vazio nos olhos outros.
Afinal, era disso que se tratava!
Éramos uns e os mesmos; mas o medo fez-nos outros,
e o estranho fez-nos alheios, hostis, intensos,
e pisamo-nos uns aos outros,
e rasgamos os ombros nas curvas
[ sempre curvas.
O labirinto faz-se aos tolos
porque a perdição não cabe às curvas
[ nem à lua movente.
Perdem-se no labirinto perdendo-se de si.
III.
Nas muitas curvas do labirinto sem fim me perdi
E a lua a fazer-me companhia sorri
Meu fim e meu começo.
O sorriso pedante ilumina meu rosto
Superei-os, e me admiro com gosto
E já não tenho medo, e me perco em paz
E morrerei no labirinto sem medo e sem desespero.