porque você sabe que essas coisas não começam - quando elas chegam elas já são tanto, já são demais. E elas transbordam em nós, e nós transbordamos por aí. E vai ser isso: eu vou transbordar por aí. As pessoas vão me ver por esse brilho que eu sobro, por esse sorriso idiota, porque estarei … Continue lendo Espalhafatosamente
Categoria: Poesia
Lamento do Império Colonial
Vínhamos - não todos, todos. Era um engano imenso, do tamanho de um país. Estávamos unidos, uma farsa só, bandeiras a tremular, corações a tremular, pensamentos, todos tão seguros, hasteados nos mais altos mastros. Sorríamos uns aos outros, encantados conosco. Era uma festa, e era uma redenção, uma luta ganha de antemão. Uma luta ganha … Continue lendo Lamento do Império Colonial
Demora
Ao Martin, ao seu ser de outro tempo, e ao meu não entendê-lo o melhor que posso Corre o tempo. Corre como um rio, convida à serena habitação de seu burburinho. Em meio ao outro, menor, mais afoito burburinho, corre o rio em seu mudo, pacato, inevitável, inaudível burburinho. Habitar o sereno burburinho do tempo … Continue lendo Demora
Tipo um ghazal
O mundo mudou, caiu, e eu soube disso pela internet. O céu escureceu, o destino rugiu, a derrota chorada em ironia trash. O momento em que a emoção adentra o corpo é um momento político o momento em que a política atravessa o corpo é um chamado fatídico. Impõe-se a luta, convoca-se à luta, luta-se … Continue lendo Tipo um ghazal
Amorcalipse
Um dia chega o dia em que o dia não chega Estaremos, então, juntos, sozinhos uns dos outros E assistiremos, assustados e impassíveis, à aproximação do inevitável que diligentemente construímos, falsa farsa da tragédia que fomos, por tempo suficiente, por tempo demais. Estarei atento, como sempre estive, aos seus olhares de medo e … Continue lendo Amorcalipse
A rosa
A Iara Iavelberg, que não conheci, que morreu, e a quem admiro Ana era uma mulher bonita, sempre achei isso. Mas naquele contexto, e daquela forma, seu rosto a um só tempo suave e ferino, delicado e decidido, parecia emanar algo da ordem da santidade. Ela cuidava do ferimento – apertava a ferida com a … Continue lendo A rosa
Combustão
Seremos, eu e tu, fumaça. Sabes, e é do tempo que seja quando for, quando será; que sejam nosso destino e acaso, de hoje em diante, magnânima entrega: entreguemos nome e idade e gravata e chapéu ao sabor do vento, ao corroer do tempo, ao explodir das bombas, ao rugir das ordens, ao correr dos homens, … Continue lendo Combustão
Subtlety (em inglês)
If I were light enough to shimmer in the waves of your voice And if Echo made me unwind and swear and wrong your choice Would it swirl and swallow me into your whole, Reveal your (w)hole, Enrage your tone Your fascinating, intimidating, scintillating tone As Jonah’s whale As Ahab’s whale Would you mind if … Continue lendo Subtlety (em inglês)
O que te marca?
Olha pra mim, olha pra mim e diz do que te marca. Marcam-te as cruzes, As luzes De Natal e de shopping Ou os berros dos homens, Imagens de santo? Marcam-te os louros, Os ferros e os fogos, As mortes de idosos crianças nos morros, Marca-te a dor dos pobres que, Pobres, Sofrem sem … Continue lendo O que te marca?
O burrinho e a lírica
Acordou, e ele era um burro. Não pelo Q.I., nem por murros que se daria em pontas de faca. Não pela fraca intuição dos fatos, mas pela certeza incólume ao não-saber, pelo que em ser-se incerto o burro impõe-se ao médio, e por saber-se falho encontra os atalhos que o levam longe sem … Continue lendo O burrinho e a lírica