É como se eu fosse um pinguim, um pinguim que passou sua vida em um bloco de gelo; à minha volta só o mar inóspito, até onde a vista alcança, por todos os lados. Eventual e estupidamente, num dia que deveria ter sido um dia qualquer, neste dia eu caí. Caí; estou ali entregue ao … Continue lendo Loucura e intelectualidade: um depoimento e um manifesto
Tag: loucura
Alice na trincheira
Este não é um texto de ficção, é apenas o relato de um acontecimento fantástico. Recebi, entre junho e agosto do ano passado, as cartas que abaixo torno públicas. Não sei por que as recebi, nem quem as enviou; investiguei a possibilidade de se tratar de um erro dos correios, ou material publicitário insólito, … Continue lendo Alice na trincheira
Precaria_mente
Eu sempre soube da precariedade, no mínimo porque você nunca me deixava esquecer; mas fui me habituando a pensar que ela era companheira nossa, você se referindo e insistindo em que olhássemos pra ela como se quisesse cultivá-la entre nós. Fui me habituando a pensar nela, a tê-la ali conosco, e por isso me assustei … Continue lendo Precaria_mente
O olhar do elefante branco
[Esse texto é sequência a "O último elefante branco"] Desenrolou-se já tempo sem conta desde a morte do último elefante branco, desfez-se o fio que o ligava a nós, perdemo-nos dele. Algo em mim, a despeito de tudo, mantém-no vivo, vivo cá dentro, e o que do último elefante branco insiste, eterno, é o olhar. … Continue lendo O olhar do elefante branco
Périplo
Dizem que viver é correr de fora a fora a angústia, como se os dias vividos fossem o corte que supura o mundo dos acasos de que ele é grávido. Diz-se que os cortes às vezes são mais profundos que a dor, rasgando o ventre da vida vivida, cravando no sulco do percurso a dor … Continue lendo Périplo
Molloy e o astrolábio
e é assim que eu começo, porque é assim que acontece: a gente se vê de repente lançado nas circunstâncias, e quando tenta inscrever contornos e limites tudo o que consegue é falsear esse abrupto que é viver. porque não é organizado e regulamentado, não é. não soaram os três alarmes antes do meu parto, … Continue lendo Molloy e o astrolábio
Será o que é?
Irmãos! Irmãos... a praça, nossa praça, acolhe-me aqui, agora em nome e honra de nosso Senhor! Eu, humilde enviado, fugi do pecado, salvai-me, Senhor! Eu tomo a palavra, da justa e da parva, a arte canhestra do nosso Senhor! Escutem meu berro, admirem o Livro, o Sagrado Livro do nosso Senhor! Aleluia, irmãos... aleluia! Aleluia. … Continue lendo Será o que é?
T’s some blues you got II
[nota: esse texto cruza com outro bem anterior a ele publicado também neste blog, chamado "T's some blues you got"] Black... boa pedida, senhor: o Black é um belo whisky. Mas sabe que eu, nos meus tempos de whisky, tomava Chivas? Gostava muito do Black também, mas o Chivas me parecia mais... como chamam mesmo? … Continue lendo T’s some blues you got II
Some cave within (em ingles)
Yes, yes, I can certainly claim it to have started in that disastrous conversation with the German woman. But has it not been there for some time now, quietly resting, imminent, callous, unavoidable like a dragon in a cave? It certainly seems so, at this point. There has been this link, this unexpected and uncalled-for … Continue lendo Some cave within (em ingles)
Rodovia Presidente Dutra, quilometro 110
O caminhão passa, perto demais de mim passa. a lufada de ar quente, o cheiro do concreto e do pneu queimando me atingem desde a nuca, o concreto quente aos meus pés mais marcante em mim agora. A areia entra nos meus olhos, no meu nariz. Como posso eu expiro com força, passo a … Continue lendo Rodovia Presidente Dutra, quilometro 110