Ao Donatinho, meu primo, pela saudosa inspiração em forma de poesia: “conhece a piada do não nem eu? Não? Nem eu”. Que haja leveza na vida de seus filhos, e na sua.
O mundo acordou atrasado, corre, acelera e bufa, desvairado – calma, mundo, tá tudo bem.
Eu pego o copo e tomo um trago, café amargo, ruim e fraco – fazendo a funça tá tudo bem.
O tempo bem desapressado, no meu relógio de pulso, me pega pelo pulso, me desajusta, faz o que pode, “corre corre menino!”. Corro nada: espero aqui, sentado ao largo do meu café amargo, no meu boteco desengraçado, espero o tempo que passa ao largo do meu relógio de pulso, desenganado.
O tempo do trem que não vem. O tempo da sorte que vem quando vem, que espero como posso e faço como quero, entendo como posso e enquanto não posso esmero. O tempo das coisas que eu não vejo quando vejo o que vejo. O tempo que está ali, em mim nas coisas.
O tempo da linguagem que se espreguiça, faceira, insinuando-se desapressadamente em meio às palavras que colho arteiro.
O tempo na linguagem que se espreguiça, que mora na linguagem que se espreguiça, o tempo que espreguiça vivo enquanto a linguagem se escasseia ao redor dessa arte puta que é escrever ao sabor do amargor do café ruim do boteco desengraçado.
O moço que me conhece, sem saber meu nome ou quem sou – “o patrão”, o nome que ele dá a quem eu sou. O moço, e o tempo do moço – “seu Zé”, o nome do moço, que eu conheço como posso, pouco, tímida e culpadamente.
O moço me serve o café escasso do desengano de estar-se a si, o descompasso à pressa do mundo como forma de estar, de si a si, encontrado em melodia íntima.
O mundo não acordou atrasado. O mundo corre acelera e bufa, desvairado, não por atrasado mas por mundo. Mundo que corre e acelera e bufa é o mundo que é, desenganado de si a si, esquecido do escasso café amargo de que é tão importante poder reclamar.
O mundo não acordou atrasado.
O mundo não acordou.
O mundo, não: eu.