a onda onde o nada anda

[Na escrita, como na leitura e na respiração, há um ritmo, que não se impõe, mas se conquista, abrindo espaço através das cortinas e ditames de um fascínio e uma urgência a nos arrendar o corpo – sobretudo os pulmões – e a respirar-nos, afoitamente. E é por isso que convém preparar-se, dispor-se; respirar; contemplar o texto, sua disposição, sua existência-mesma; deixar-se afetar pela iminência do encontro, ir de encontro ao texto antes mesmo de principiar a jornada. A conquista, bem dizendo, não é a leitura, enquanto jornada, mas é a disposição de si de forma que a leitura, enquanto jornada, seja ocasião de um encontro consigo. Se, quando, e ao consegui-lo,]

Estende-se o mar, abundante onda

onde nada consome, agoniza, morre

[dispõem-se, na vastidão de um tal encontro, as amplas paragens, morada de uma quietude transbordante, onde brincam crianças, onde frutificam as mais doces ignorãças, a beleza despindo-se de suas suportes lembranças, o vazio que é o casulo que é a vida que é a passagem. Não há engano no desengano que é deixar-se flutuar ao sabor das ondas e marolas e espumas,  deixar-se fluir, flutuar-se onda, ondular-se mar. Se, quando, e ao consegui-lo, desexiste-se a organização que cativa os sentidos, liberta-se a percepção do tudo que nos abrange em nada que somos, ]

E estende-se, mar, abundante onda

onde o nada consome, agoniza e morre

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