cosmogonia da treta toda

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descobri recentemente que deus é uma mulher negra. nunca soube – e olha que fui batizado, fiz crisma e tudo.

por onde passei vi deus representado sob muitas formas, mas nunca era uma mulher negra. já vi deus como um velhinho, branco e barbudo; já vi deus como um triângulo emanando raios de luz e portando um olho imenso, meio egípcio, ao centro; já vi deus como uma pomba. como mulher negra, só vi recentemente, mas vi. vi, e é como a vejo hoje. deus é uma mulher, e é negra, e eu acho fantástico.

se é assim, suponho que homem branco seja o diabo. um diabo, talvez: pode ser que não seja o único. de qualquer forma suponho que se deus é uma mulher negra o diabo que é o homem branco deve ser um diabo grande, um chefão de algum tipo.

pode ser que os diabos encarem os deuses que se lhos oponham, formando duplas antagonistas. li umas revistas que retratavam um confronto entre heróis da Marvel e heróis da dc que funcionava assim – cada um com seu cada qual, cada qual com seu cada um. se for assim, de qualquer maneira, o diabo que é o homem branco continua sendo diabo de muitos deuses. nesse caso acho que ele estaria enrascado. ou ele é muito poderoso, tipo um diabo que é um chefão de uma fase importante. ou pode ser que ele seja muito, muito traiçoeiro, e vá derrubando os deuses aos poucos, jogando uns contra outros, atacando pelas costas, derrubando os deuses na surdina.

pode ser inclusive que ele faça acreditarem que ele é deus.

pode ser que ele se disfarce de pomba.

o que importa é que ele não engana deus. deus, que é uma mulher negra, não se deixa enganar – não pode. a menos que deus, que é uma mulher negra, também não seja onisciente como ensinam no catecismo. pode ser que deus, que é uma mulher negra, tenha sido enganada. pode ser que ela adore um deus errado, um deus que é um velho homem branco.

pode ser que o diabo, que é um velho homem branco, tenha enganado deus, que é uma mulher negra. pode ser que ele tenha submetido deus, tenha feito deus acreditar que não é deus, e que na verdade é o contrário de deus – não o diabo, nem sued, mas uma coisa oni-ignorante, oni-impotente, oni-ausente. tão oni-ausente que nem tem alma, tão oni-impotente que não serve nem pra ser empregada, tão oni-ignorante que não sabe nem que é ignorante.

pode ser que o diabo, que é um velho homem branco, esteja sentado numa poltrona insossa de nuvens compradas a prestação na conta de deus, tomando uma cerveja quente de cereais não-maltados, coçando seu saco velho caído e assistindo programação vespertina da globo. pode ser que ele maltrate deus quando deus varre à sua volta. pode ser que deus se submeta.

mas pode ser que deus se lembre. no intervalo do plim-plim o diabo, que é um velho homem branco, coça seu velho saco caído uma última vez pra criar coragem, levanta gordamente da poltrona insossa e dá um tapa na bunda de deus, que é uma mulher negra, a caminho da geladeira. aí deus se dá conta que está tudo errado, e olha à sua volta e vê que há muito tempo, tempo demais está tudo errado. deus olha o velho homem branco e se lembra que ele não é deus, mas o diabo, e lembra que ela não é o avesso de deus, mas deus.

a essa altura há de ser de deus encontrar tudo desencaminhado – da poltrona insossa do diabo espatifou-se a merda toda, e deus encontra espiando de lá como as coisas desandaram sob a bunda gorda e branca do diabo, que é, afinal de contas, um velho homem branco.

cagando suas regras moles e fedendo seus desmandos gordurosos o diabo, que é um velho homem branco, há de ter feito o diabo por tudo. oniscientemente deus, que é uma mulher negra, vê então a humanidade adorando velhos homens brancos, velhos homens brancos que são porcos e que se besuntam de ouro para melhor serem adorados.

mas deus é uma mulher negra, e deus é do caralho: agora, livre, ela é o que há de ser, e as coisas se acertarão porque é assim que é. o diabo, que é um velho homem branco, que vá ser o diabo que ele é na puta que o pariu, que aqui ele não manda porra nenhuma, e pronto. deus, que é uma mulher negra, e que é do caralho, dá um pé na bunda branca e gorda do diabo, que não é ninguém, desliga a televisão, liga um som, e já é.

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