Fugiremos, como pudermos, e o sol nos acolherá com o que se nos faz necessário. O tempo escasso cobrará seu último grão e estaremos finalmente sem tempo, tendo conosco só o tempo do mundo – todo o tempo do mundo. Veremos quem não conhecemos ainda, seremos ninguéns de passagem, sempre de passagem, e ao cabo de uma longa jornada seremos menos do que éramos quando decidimos que não esperaríamos mais pelo suficiente. Estarei sozinho com você, e seremos menos intrusos ao que importa do que sempre fomos quando nos propusemos a ser um a despeito de nós, dos nós. Aprenderei a ser o interstício, faremo-nos escassos, a farsa far-se-á o avesso do nosso pouco, pouco patrimônio, já sem lastro; o hoje se juntará ao ontem e estaremos enfim perdidos, entregues, unidos ao que resta entre o que não sabemos e o que não nos importa mais. E estaremos bem, porque somos muitos, e já não sabermos mais quem somos redundará na força de já não termos como perder, e o que importa já será nosso.