Domingo no parque

e ficamos ali, como que esquecidos à margem do tempo. Vinha gente de todo canto, passavam por nós com saquinhos de pipoca, espetos de algodão doce, copos de refrigerante imensos imensos, e eu abraçado a ela contemplava aquilo tudo como se fossem os elefantes  surrealistas do dalí, e como se estando ali à sombra da árvore e dela tudo aquilo se me afigurasse um sonho lúcido, eu intocável e protegido e maravilhado e feliz.

Sabia, como sabemos quando somos sérios demais para sermos felizes, que tudo aquilo mais cedo ou mais tarde desvaneceria, sabia que mais cedo ou mais tarde alguma formiga ou dor de barriga ou pensamento razoável ou mudança de postura quebraria daquilo tudo a aura e o encanto, e aquilo que fora sonho viraria um momento de sossego em um canto, ficaríamos então aquietados mas sendo nós mesmos, passando uma tarde agradável à sombra de uma árvore e de um passado e um futuro a nós estranhos.

Mas sabia que saber é coisa besta, eu não moro só na minha testa e às vezes sei viver o que é bom. Senti sem incômodo uma certa vertigem, ligado que estava ao ser uma onda que passa passageira por esses punhados de moléculas que me acolhem, e ligado que estava à vertigem desses punhados de moléculas que se sacodem ao redor do vazio que sou eu, balãozinho pululando daqui pra acolá

Durou o quanto dura um bom momento – do ponto de vista que não importa devem ter sido dez segundos ou dois ou dez minutos ou umas duas ou três horas; do ponto de vista que importa foi uma das clareiras que posso esquecer sem perder nada e que me permitem ter certeza lá bem no meio de mim de que a vida vale a pena.

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