Falho e falível
Assumidas as limitações
Estabelecidos os contornos
Postas as circunscrições
Eis-me um
As sombras do passado e futuro a fazer-me simples
Os tempos e peles a fazer-me vivente
Os arremessos,
destemperos,
o irremediável,
e eu já o outro em mim
O errante e o narciso
a fugir de si, de si para si, rumo ao fora –
e, sempre tropeçando, o mesmo
*
Faze-me rir.
Os tempos já se vão, e logo seremos bitucas de uma vida vivível, os escolhos auto-indulgentes de um prazer barato.
Pude ser o que não fui e, sendo arrogante, achei-me sendo o que só em pensamento era.
Sendo em pensamento, não fui o quanto pensei; e quando fui ser bateu-me à cara, qual luva de pelica, o pobre e pouco do deixar morrer os sonhos de si para ser-se em meio ao cinza.
Ser-te-ia mais, mas há pequenos prazeres e pequenas-grandes frustrações que se me tomam o prumo e o corpo – são mais eu do que eu mesmo me sou eu.
No quarto dos fundos há uma porta, e uma pequena janela, que dão lá. Muito se é, lá – mas eu, não. Pois há muito o que fazer aqui.
Mas hoje – só hoje – faze-me rir. Amanhã a gente não sabe, amanhã dá-se amanhã; hoje, faze-me rir, e sejamos só isso e nada mais.
Simples, um dia, e você, e eu.
2010 – Speranza, 23 de setembro, coluna 5
Por acaso vim parar aqui. E por sorte achei esse texto.
Maravilhoso.
Parabéns!