Enfim, o país do amanhã

Mais cedo nessa semana publiquei dois textos longos em que analisava os parâmetros formais e estruturais que eu via em jogo na disputa entre os dois candidatos à presidência. Tentei me furtar à impetuosidade e ao clima apocalíptico e escatológico que tem tomado a cena pública, e tentei me situar considerando que estamos em um momento histórico – com um longo antes, um longo agora e um longo depois em jogo. Acontece que o dia da votação está chegando, e com isso acho que vem também a necessidade de eu deixar de lado as análises amplas e soturnar e passar a algo mais incisivo e pontual, como exigem as circunstâncias.

Em resumo: um dos candidatos articula apoios a um programa de governo que se articula com o garimpo e o desmatamento ilegal, desarticula a fiscalização de agrotóxicos e medidas ecologicamente danosas, precariza os vínculos empregatícios, aumenta a insegurança alimentar, a fome e a extrema pobreza, e isso tudo para garantir maiores lucros às grandes fortunas, ao capital especulativo e ao “mercado”. O outro candidato procura articulações para uma governabilidade de coalizão, tendo como foco o combate à miséria e a extrema pobreza, o desenvolvimentismo e a industrialização estratégica, buscando negociação com os grandes capitais e indústrias mas com apoio aos micro e pequenos produtores, empreendedores e demais atores sociais (“inclusão negociada” numa agenda desenvolvimentismo, em resumo).

Infelizmente, há um único ponto que antecede e sobrepõe à discussão dos programas de governo: o compromisso com a democracia corrente e o respeito às instituições e, nessa medida, à soberania popular e à Constituição que a chancela e ordena. Por esse ponto, não acho que há espaço para dúvida: só um presidente se comprometeu, e só faz sentido o voto nele (votar no outro significa por a perder as bases do que o voto representa, num país como o nosso).

Como diz o documento publicado pela campanha Lula-Alckmin ontem: “O Brasil não pode mais ficar nas mãos de quem admira a ditadura militar e idolatra monstruosos torturadores. O Brasil não pode ficar entregue a pessoas que questionam nosso processo eleitoral, procurando criar condições para golpes e aventuras totalitárias. O Brasil não pode estar submetido a um governante que agride sistematicamente o STF e o TSE e já ameaçou fechar o Congresso. Um governo que nega a transparência, o acesso público à informação e desestruturou os mecanismos de controle e combate à corrupção. Nossa democracia é fruto de décadas de luta, de mulheres e homens, pela nossa liberdade e pelos nossos direitos. A reconstrução do Brasil exige uma gestão pública competente, responsável,
aberta ao diálogo e com a mais ampla participação da sociedade. Exige uma gestão da economia com credibilidade, responsabilidade e previsibilidade”.

Por isso, senhorus, a situação é clara: pra quem respeita a democracia, é 13 no domingo, e luta dali em diante.

Em tempo: para quem quiser ler os textos anteriores, eles estão aqui e aqui. E para quem quiser ler a carta “programática” da campanha Lula-Alckmin, que sinaliza basicamente na direção de seus focos de governo, ela se encontra aqui.

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