O homem da tempestade (uma parábola)

Há algum sinal de mudança, talvez – um esgar de claridade, um indício de duna.

Há uma presença do tempo, a insinuação de um tempo a existir, algo que só as bordas, a falhar, denotariam.

Algo disso ocorre ao Homem da Tempestade, ainda que, aparentemente indiferente, ele siga, sem rumo, como haveria de ser, mas decidido e certeiro como sempre.

A despeito do que há, e do que quer que seja que eventualmente haja, seu lar, a tempestade, estará consigo. Haverá, independente do que seja, haverá tempestade, caótica e criativa, indiferente e produtiva, insistente e evanescente.

Uma casa que ele leva consigo, ou que o leva consigo, uma casa que porta consigo todo o nada que ele é.

É possível que, eventualmente, algo mude. É possível, ainda que não faça sentido, como haveria de não fazer. Quando vier, se vier, o que quer que seja, será estúpido, externo, absurdo e definitivo.

Se um dia vier, ele já não será mais. Ele não pode não pensar que o que vier será errado, mas ele sabe que esse problema é seu, não importa, nem mesmo existe. Quando vier, o que vier, será o fim dele, e o errado que ele achar não será, tanto quanto ele mesmo já não será.

Talvez já esteja vindo. Talvez já esteja ali, consigo – afinal insistem, cá e lá, os esgares, indícios e insinuações. Parece haver algo para lá da Tempestade, algo estúpido e novo. Ainda assim, e obviamente, não importa: o Homem da Tempestade segue seu caminho, sem rumo e certeiro, eternamente até que um dia chegue.

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