Gente de todo povo, povo de toda prosa, prosa de toda gente e a gente lá. A festa estava boa, estava boa pá, boa de se rir à toa, o povo a saracotear. Eu tinha te deixado ali às margens da banda, a saia baloneando, e fui comprar uma cerveja e encher o copinho de amendoim, era um minuto, um minuto só. Voltei e tinha lá um mariposa cutucando as tuas margens, todo sorrisos e palminhas, a malevolência no brilho cafajeste do olhar, ele e o olhar prestando reverência a você e à tua saia, à tua saia a rodar. Eu, tenso, teso, assustei-me com o rescaldo, pensava, pesava, uma tensão de leve no ar; será, mas será que fazia cena, montava o circo, soltava os tapas, os prantos, as birras… será?
Não carece. Ah, não carece! A banda é boa, o tempo voa, o povo entoa o samba de ponta, e o naipe desponta com um bom-gosto que é de estralar a língua na ponta da caninha, é uma noite linda, tua saia e a ginga e o espanto das gringa, e você, loira, você é tão linda, tão linda, deixa o mariposa na estiga, ‘bora sambar.
A hora voa, dois três seis brindes à saúde, saúde de quem?, o tempo voa, a banda entoa sua última loa, um samba canção que destoa da farra da noite toda, mas que aproxima os amados, favorece os afagos, espanta os malcriados que estavam à alta madrugada só em nome da confusão. Eu te puxo apertado, as cinturas sozinhas marcando o lento gingado, os pezinhos grudados e nem saindo do chão. E aí, o coração apertado de me ver tão cativado, me afasto faceiro, te puxo a rodar, e rodamos rodamos rodamos rodamos, eu rindo de descolocado, e a zonzura me toma e eu caio no chão, ah não! Mas não, não é tragédia, é só uma comédia, você me olha e é só risada, passa uns momentos sem conseguir sequer me estender a mão, eu me zango e me embirro, mas logo passa, eu de bunda molhada no fim da balada, olha a situação!
É uma vida boa, loira, é uma alegria à toa mas que me preenche o vão de dentro, cumprimento de bêbado o pessoal da Arremedo, e o garçom e o Mariposa e até o rapaz que limpa o banheiro, me perco nos dinheiros e você me ajuda, sem neura, sem peso, ‘squenta não.
E a gente se solta rua afora, o céu aos poucos clareando, cantando alguma coisa fora de ritmo e de tom e de rima, completamente sem rima, mas a gente é feliz, ah, isso sim!
são momentos, são torrentes, que beleza, vai que vai que é a vida. belo texto, Will.