[ Trilha sonora sugerida: http://www.youtube.com/watch?v=SfVBDBcWuA0 ]
3 dias.
Banho. Barba, louça, roupa, mesmo os pensamentos.
Banho.
3 dias.
Bizarro. Ridículo. Incompreensível, inimaginável.
E não faz o menor sentido. Eu sou uma pessoa absolutamente normal; eu era uma pessoa normal. Eu sou. Não. Não, não é, tudo certo, é isso.
Banho. Ridículo. “Bernardo Ramos encontrado em crise psicótica, murmurando frases desconexas, todas relacionadas a banho e chuveiro” – lindo. O que a Bianca diria? O que a Bianca dirá?
Meu Deus, cadê a Bianca?
Eu deveria tentar de novo, será? Poderia perfeitamente funcionar, eu ligo o chuveiro, tomo banho, tudo certo. Tudo volta aos eixos. Barba, louça. O banho.
Que situação ridícula. Como pode?
3 dias, já. Quantos dias ainda, será? 10 dias, sem banho, sem sair de casa, um bicho. Um bicho louco, porque bicho normal não fica assim.
E se eu fosse um bicho? Se eu fosse um bicho e não tomasse banho, nada disso estaria acontecendo.
Eu estou ficando absolutamente maluco, já, essas idéias não fazem sentido algum. Por causa do banho? Por não sair de casa?
Talvez se eu dormisse.
Talvez.
…não. Não dá.
E não é isso, também. Eu preciso tomar banho.
Tá, tá, banho. Vou tomar banho. Vai dar tudo certo. Eu vou ligar o chuveiro, tomar banho, como uma pessoa normal, sem stress.
Meu Deus, eu não me vesti depois da última vez.
Banho.
Vou ligar o chuveiro, tudo normal, não vai dar nada errado. Coragem, coragem, coragem – eu vou ligar esse chuveiro, vou virar essa manopla e vai sair só água dos poros da cabeça – do chuveiro, do chuveiro! Só água dos poros do chuveiro. Só água dos poros do chuveiro.
Só água. Só água.
Coragem, coragem, coragem…
Hm… hm…
Ah!
31 de agosto de 2010