Era um homem novo. Como todo homem novo, tinha um futuro brilhante, sabia como o mundo era e como as coisas deviam ser. Inconformado. Brilhante.
Aos 30 e poucos, doutorado recentemente conquistado, psiquiatra de renome crescente, J parecia daqueles destinados a fazer a diferença. Na instituição que ajudara a fundar, era a figura central, amigo de todos, próximo a todos.
Era o que seria; era futuro.
Aos 30 e poucos, contra todas as expectativas, contra todas as perspectivas, contra todos os possíveis, J sofre um AVC. Amplas sequelas.
J era futuro; mais que isso, no entanto, J era presente – era futuro porque era presentidade em ato, era virtual: J era instituinte.
A sombra de J pode ser imensa; sendo presentidade, como não ser, da sombra de seus possíveis, uma promessa sem fato, um arremesso sem chão?
Ter a vida pela frente pode ser um vazio sem tamanho.
W, 2010